Alfredo Cotait é presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB)
A recente decisão do governo federal de aumentar a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) escancara, mais uma vez, o desprezo pelas engrenagens que movem a economia brasileira: o setor produtivo. É inissível que, diante de uma crise fiscal anunciada, o caminho escolhido seja o mais fácil – e o mais injusto. O empresariado brasileiro, já sobrecarregado, é novamente chamado a pagar a conta de um Estado inchado, ineficiente e perdulário.
Enquanto outras nações adotam políticas de austeridade e incentivo ao investimento, o Brasil rema na contramão. Ao encarecer o crédito, gerar instabilidade cambial e alimentar a insegurança jurídica, o governo ergue barreiras que afastam o investimento, dificultam a geração de empregos e penalizam quem decide empreender.
A conta simplesmente não fecha. E a paciência está se esgotando. A plataforma Gasto Brasil mostra que os gastos somados das esferas federal, estadual e municipal já ultraam R$ 2 trilhões. Em contrapartida, o impostômetro exibe uma arrecadação de R$ 1,5 trilhão. A diferença escancara o problema: o desequilíbrio não está na arrecadação, mas na gastança.
Só nos primeiros cinco meses de 2025, o desequilíbrio entre as receitas e as despesas atingiu quase R$ 500 bilhões de reais, o que gera um déficit que, por sua vez, termina por ser coberto por instrumentos de mercado, com o aumento dívida pública. Esse ciclo perverso é a razão do aumento da inflação e, consequentemente, da elevação da taxa de juros. Por isso, é urgente uma política de cortes de gastos para incentivar os investimentos.
A estimativa de arrecadar mais R$ 20,5 bilhões com o aumento do IOF neste ano não a de uma medida paliativa, quase desesperada, que escapa do enfrentamento real da crise fiscal – a necessidade urgente de reduzir despesas, cortar privilégios e rever o tamanho do Estado. Quem pagará essa conta? O empresário, principalmente o da pequena e média empresa, que mais depende de crédito. O trabalhador. O consumidor. Em outras palavras, o Brasil real.
Responsáveis por mais de 70% dos empregos formais criados em abril, os setores de comércio e serviços devem sentir com mais intensidade os efeitos do aumento do IOF. Com forte dependência de crédito, principalmente entre pequenas e médias empresas, essas áreas correm o risco de ver encarecer operações essenciais, como financiamentos de capital de giro e seguros de saúde e veículos.
Em abril, juntos, comércio e serviços abriram 184 mil vagas, de um total de 257.528 postos formais, segundo dados do Caged. Aumentar imposto é uma medida é prejudicial ao setor produtivo e injusta com quem mais contribui para a economia.
Não aceitaremos em silêncio mais um ataque disfarçado de “ajuste”. Não é com mais impostos que salvaremos as contas públicas, e sim com coragem para reformar, para cortar desperdícios e para respeitar quem produz. Ou enfrentamos esse desafio de frente, ou estaremos condenados a conviver com juros altos, inflação persistente e desemprego estrutural.
O Brasil precisa de liberdade econômica para prosperar – e não de mais tributos para afundar. O Congresso tem a responsabilidade de impedir que essa medida avance. Precisamos de um Estado mais enxuto, um governo mais eficiente e um ambiente em que o empreendedor não seja punido, mas fortalecido. É hora de dizer basta. Basta de castigar quem investe, quem emprega e quem carrega o país nas costas